Já era de noite, e o céu estava escuro. Joy estava na poltrona nervosa, olhando para a varanda, pela janela, se balançava nervosa e leva um susto quando a mãe se aproxima:
__ Desculpa, eu não queria...- Joy não diz nada e sorri triste para mãe.
__ Quer dividir seus pensamentos? - a mãe a acaricia no rosto.
__ Não, mãe! Eu estou bem. - sorriu falso.
__ Não esta, amor! Você precisa desabafar, dizer o que esta acontecendo.
__ Mãe, já conversamos sobre isso... - tentou levantar , mas a mãe pegou sua mão e a fez sentar novamente.
__ Joy, meu amor. A mamãe sempre foi sua amiga, sempre te apoiei. Não vou te julgar, não vou...
__ Chega! Para! - gritou e a mãe a repreendeu com os olhos. __ Eu não posso te contar, tá? Será que não entende!? - Disse ainda exaltada.
__ Você pode e deve! Precisa conversar com alguém. - ainda tentava dialogar com a filha.
__ Mãe, vou te pedir mais uma vez. Por favor...por favor, me deixe em paz! - tinha lágrimas nos olhos.
__ Te deixar em paz? Eu estou vendo você se matando todos os dias. Faz 2 meses que esta aqui em casa, e só fica trancado naquele quarto escuro, dormindo sob efeito de medicamento. Precisa fazer alguma coisa. Eu preciso fazer alguma coisa para te ajudar.
__ Eu estou te incomodando, mãe? Se a questão for essa...- falou magoada.
__ Claro que a questão não é essa?
__ É dinheiro? Se for peço para meu pai. - A mãe estranhava a reação dela.
__ Não é dinheiro, Joy, e não vou brigar com você. Só peço que reaja, não passe o dia inteiro no quarto.
__ Talvez se toda vez que eu me levantasse eu não tivesse que ouvir esse discurso psicológico eu até levantava mais. Morro de medo de te encontrar pela casa.
__ Eu?
__ Sim. Detesto essa conversinha mãe e filha!- falou com raiva.
__ Não dá para conversar com você assim. Esta com raiva de mim? - perguntou chateada.
__ Estou. Estou com raiva desta sua carinha de pena toda vez que me vê. - apontou para a mãe, e agora chorava.
__ Não tem...
__ Tem sim. Essa cara de "coitadinha da minha filha", foi violentada 2.000 vezes por aquele maníaco, deve imaginar o meu inferno....Mas mãe... - olhou com a expressão meio alucinada. ___Mãe, qualquer coisa que você imaginar, pode ter certeza que não chegará nem perto do inferno que realmente vivi. E saiba, tudo que puder imaginar, aconteceu.
__ Filha...- tentou abraçar a filha que desvencilhou aos prantos, e virou de costas para a mãe, que agora chorando ficou se reação. __Filha, você não tem culpa de nada. De nada! Fez tudo para salvar sua vida e esta aqui. Não se culpe por nada.
__ Mãe, eu fiz muita coisa que não devia ter feito, fiz apenas por medo. Por medo.
__ Claro. - incentivava a filha a se abrir.
__ Sabe, eu fiz coisas para ele....- chorava e quase não conseguia falar. __...coisas para ele, que me envergonho muito.
__ Se envergonhar? Não precisa se envergonhar de nada.
__ Eu me envergonho sim. Deus nunca vai me perdoar! Nunca!
__ Claro que vai! - pegou a mão da filha. __ Você foi colocada nesta situação. Não tem culpa de nada, e não tem nada o que se envergonhar.
__ Mãe, eu tenho vergonha de mim. Tenho nojo de mim! - falava com expressão de ódio e nojo. __ Tenho nojo de mim! - a mãe abraçou a filha com força, agora ela tinha mais ódio ainda do sequestrador da filha. Se pudesse o mataria com as próprias mãos.
Á noite, Joy desceu as escadas e ouviu a voz do pai conversando com a mãe, teve mede de encará-lo e ficou pensativa se conseguiria encará-lo mais uma vez. Desde que brigara com ele no jantar, ele não tinha aparecido mais. Escondeu-se sentada na escada, e lembrou que fazia muito isso quando era criança. Ficou escutando a mãe conversando com o pai:
__ Sei que para você é dificil digerir tudo isso. Mas ela é nossa filha e ele é nosso neto. Não é filho daquele criminoso, é nosso neto.
__ Eu não consigo, quando o vejo, vejo aquele maníaco. Ele não é um filhinho que ela teve nos modos convencionais. É fruto de um estrupo.
__ Fale mais baixo, por favor! Você esta louco? Achamos que tínhamos perdido nossa filha, e agora que ela voltou. - Se emocionava ao falar da filha. __ Eu voltei a ser feliz. Voltei a querer viver. Devia estar sentindo como eu. Tantas vezes eu achei que ela tinha morrido. - Joy chorava baixinho na escada.
__ Sei que devo estar parecendo horrível para você. Mas é difícil olhar para ela também. Primeiro que é quase inacreditável que esteja viva e bem. Depois... - pensou antes de falar.
__Depois....depois o que?
__ Depois não consigo imaginar ele a violentando todos os dias, e ela subjugando aos caprichos dele.
Não tinha como ela fugir? Gritar por socorro? Você viu o helicóptero sobrevoando o local? Esta cheio de vizinhos.
__O quarto era a prova de som, Robert. Ele tinha um código da porta.
__Ela podia ter lutando contra ele.
__Ele era um homem forte, ela apenas uma menina, Robert. Por favor não a julgue. Ela conseguiu sobreviver. - Joy saiu de trás das paredes aos prantos.
__Eu tentei fugir, pai! - Tentava controlar o choro, que a impedia de falar de tanto nervoso. __Eu bati nele, eu tentei muito fugir. Gritei muito para me escutarem. Nos primeiros dias só consegui ser espancada violentamente, e violentada das piores formas possíveis. Se é só isso que o Senhor consegue ver, ao menos veja a verdade. Tinha dias que todo o corpo doía das surras que eu levava. Não era como no cinema. Eram socos, chutes na barriga, e dói tanto que ás vezes chegava a perder o sentido. Depois com a cara estourada, inchada de tanto murros....- o pai tentou levantar, mas sua mãe o segurou o obrigando a escutar a filha, agora ela chorava muito também. _...ele me batia tanto, que eu fazia tudo que ele queria mesmo pai. Tudo! E depois agradecia e me desculpava. Sim, ele me subjugava, pedia para agradecer todas as vezes. Se serei feliz algum dia. Talvez nunca, pai! Mas o que você esta fazendo agora, esta acabando comigo! - saiu chorando, e subindo as escadas. Nancy olhou com raiva para ele desaprovando a atitude dele para com a filha.
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