A Casa do Céu (Trechos do livros) - Amanda Lindhout

04:17 |
A porta do meu quarto se abriu e fechou. Levantei os olhos do catálogo e vi que era Abdullah. Ele usava um sarongue de cor roxa e uma camiseta que estava bastante esticada sobre o seu corpo e amarelada pelo suor. Seus olhos queimavam pela abertura do seu capuz. Desta vez, ele não fingiu que revistaria o meu quarto. Em vez disso, deixou sua arma apoiada contra a parede. 
— Levante-se — disse. Quando não me movi, ele repetiu a ordem. Não tinha importância o fato de que eu me preocupara com aquela possibilidade. De que eu tivera a sensação do que poderia acontecer. Não mudaria nada. Não havia qualquer maneira de me preparar. Tirei o livro de cima do colo e me pus lentamente em pé, sentindo o corpo tremer e a garganta se contrair. 
— Por favor — eu disse. — Por favor, não. - Abdullah respondeu fechando a mão ao redor do meu pescoço, empurrando-me para trás até que eu estivesse prensada contra a parede. Os ossos da base da sua mão estavam pressionando a minha traqueia, erguendo meu queixo. Comecei a chorar enquanto seus dedos longos subiam pelo meu rosto, cobrindo a minha boca, apertando as órbitas dos meus olhos. Sentia que estava sufocando. 
— Por favor, não, por favor! — eu dizia contra a pele retesada da palma dele, lutando para conseguir respirar. 
— Cale a boca, cale a boca, cale a boca! — dizia ele em resposta, apertando ainda mais a mão ao redor do meu pescoço. Já estava sem o seu sarongue agora. Por baixo, usava um calção esportivo com a cintura ajustável por um elástico e, com a mão livre, estava se tocando por dentro do short. Minha mente parecia ter se liquefeito e estar espirrando para fora de mim, incapaz de sustentar pensamentos. Senti-o buscar a barra do meu vestido somaliano, puxando-a para cima. Continuei a falar, com a voz abafada, os braços batendo inutilmente contra ele: 
— Não faça isso! Por favor, não! Ele bateu com o punho na lateral da minha cabeça, e eu senti meu corpo inteiro se enrijecer. 
— Cale a boca, vou matar você! — disse ele. — Cale a boca vou matar você! — Em seguida, forçou-se para dentro de mim e eu tive vontade de morrer. Em dez segundos, estava acabado. Dez segundos impossivelmente longos. Tempo suficiente para a terra tremer e se abrir, criando um penhasco entre eu e a pessoa que fora antes. Quando ele me soltou, eu caí no chão, desabando como se fosse uma boneca de pano. Abdullah voltou a vestir o seu sarongue e pegou o rifle. Ele abriu a porta e verificou o corredor. Eu estava com a cabeça nas mãos e não olhei. Pedi para ir ao banheiro. Estava desesperada para me lavar, para chorar, para me esconder. Ele observou o corredor outra vez. 
— Vá — disse. Antes que eu pudesse sair, ele apontou sua arma para o meu peito, perto o suficiente para estar quase me tocando outra vez. 
— Se contar isso a alguém, eu vou matar você — disse ele. E eu tive a certeza de que ele o faria.
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